Após blocos e escolas de samba desfilarem pelas avenidas, vem em seguida, o que podemos considerar “o bloco mais importante”: os garis recolhendo os resíduos deixados para trás pelos foliões. E esse ano não foram poucos!
O Carnaval é uma festa muito popular e querida em espaços públicos, o que atrai muitas pessoas, e com isso, gera o acúmulo alto de lixo, não só em ruas, mas também praias, e mesmo com toda uma operação de serviços especiais de varrição, limpeza e destinação final, o volume é muito alto e, infelizmente, nem todo esse material se pode reciclar.
Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, por exemplo, foram contabilizadas ao final do feriado mais de mil toneladas de lixo, segundo a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), precisando fechar operações de limpeza contando com até 2.450 garis por dia nas maiores agremiações.
A megaoperação deste ano, bateu o número de 1.236,5 toneladas de resíduos removidos (527,5 toneladas a mais que em 2020, último carnaval). Durante o pré carnaval carioca foram somadas 480,2 toneladas de resíduos no Sambódromo, entretanto, mesmo com tamanha quantidade recolhida, cerca de apenas 47,4 toneladas desse material é provavelmente reciclável.
“Nos sete dias de desfiles na Nova Intendente, realizados na Avenida Ernani Cardoso, a Companhia chegou a 79,5 toneladas de resíduos removidos desde o início da festa no novo palco do carnaval carioca, que contou em todos os dias com a abertura do grupo Chegando de Surpresa, composto de garis que usam a música e a dança em campanhas de conscientização. Já o Carnaval de Rua gerou, desde o início do pré-carnaval, dia 4, 676,8 toneladas de resíduos, sendo 607,5 toneladas dos blocos, 59,8 toneladas dos bailes populares em diversos bairros da cidade, e 9,5 toneladas dos desfiles de Blocos de Enredo, nos quatro dias de folia” – presidente da Comlurb, Flávio Lopes
Mesmo com todo apoio e disponibilização de contêineres, lixeiras metálicas, servidores e mais em pontos estratégicos para maior facilidade na remoção e recolhimento, ainda assim muitos foliões acabam descartando seus resíduos nas ruas.
Assim, nascem projetos sociais com o intuito de amenizar esse impacto no meio ambiente. Ainda no Rio, o Projeto Recicla Sapucaí, promoveu o descarte correto de resíduos sólidos durante o carnaval deste ano no sambódromo do Rio de Janeiro, e não só foi muito eficiente no que se propôs, mas também foi protagonista de um recorde mundial: foi reconhecido como a maior ação de reciclagem de latas de alumínio do mundo. Somando “as sobras” dos desfiles das escolas de samba da Série Ouro e do Grupo Especial, são cerca de 10 toneladas de latas recolhidas, entrando para o Guinness World Records, o Livro dos Recordes.
Anteriormente o título pertencia à cidade de Praga, com 100 kg de materiais coletados em uma semana. Além disso, a ação também teve impacto social, sendo toda a renda obtida com a reciclagem revertida aos 108 catadores contratados para a ação, com uma renda média de R$ 700 para cada um.
Vitória (ES)
Já em Vitória (ES), a cidade recolheu cerca de 43 toneladas de resíduos até dia 22/02, chegando no bairro Jesus de Nazareth a mais de 3km de onde se concentrou o bloco
Mesmo com a ação da prefeitura, sobrou para os moradores se encarregarem da limpeza da cidade
“O pessoal que veio aqui conhecer, viu a praia toda suja. Esse lixo não é gerado aqui. O pior dia que presenciei foi a segunda-feira, por conta o acúmulo de sábado pra domingo. Estava bem suja mesmo. Tinha morador limpando e ele estava pedindo mais sacola, porque estava muito sujo. Ela tirou uma sete sacolas grandes de lixo”, – comentou um morador.
Ao todo, foram recolhidas 42,93 toneladas de resíduos, que serão encaminhados para Unidade de Transbordo na capital, e após para um aterro sanitário em Cariacica.
São Paulo (SP)
Agora em São Paulo, a prefeitura contabilizou 241 toneladas de lixo durante o primeiro final de semana do feriado, no pré-carnaval, onde concentraram 1,5 milhão de foliões nas ruas. A capital paulista contou com varredores e 392 veículos atuaram na limpeza das vias, e a lavagem das ruas contou com 1.826 litros de desinfetante e 533,5 m³ de água de reúso para a limpeza.
E para onde irá essa sobra de alegria e folia?
A expectativa da SMSUB (Secretaria Municipal das Subprefeituras) é de que possam reciclar mais de 50% do material coletado, podendo diminuir ou aumentar por conta da contaminação de resíduos ou chuvas. No último carnaval, em 2020, a prefeitura coletou 663 toneladas, e somente metade foi reutilizada e reciclada. Quando isso se torna um problema? Quais são os vilões do Carnaval?
Definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um problema de saúde pública, as montanhas de lixo e resíduos acumulados pelas ruas durante a festividade geram doenças, incêndios, enchentes e grandes impactos ambientais com os processos de coleta (tanto de barulho como à gases emitidos pelas frotas de caminhões de recolhimento).
Para se ter uma ideia da geração de lixo no feriado, a professora de pós-graduação em Meio Ambiente da Uninter Sandra Lopes de Souza escolheu exemplos de cidades com a tradição de festas do Carnaval.
Segundo dados que a profissional realizou, em 2019, Florianópolis teve 126 eventos públicos e a prefeitura coletou 160 toneladas de resíduos. Em São Paulo, no ano seguinte, as empresas de limpeza pública coletaram 456,5 toneladas de resíduos, e no Rio de Janeiro a média de lixo chegou a cerca de 500 toneladas. Já em Salvador a prefeitura somou 436 toneladas nos circuitos
Desses resíduos gerados, alguns se tornam grandes preocupações como o plástico (grande vilão dentro e fora do Carnaval), vidro, e impressionantemente coco verde e chicletes, e especificamente, durante a festividade do Carnaval, é um trabalho muito difícil dar a destinação correta pela grande quantidade de resíduos gerados.
Já latinhas e papelão, mesmo que sejam recolhidos, sempre sobram toneladas em locais indevidos, gerando grandes acúmulos e materiais contaminados, sendo irrecicláveis, e novamente, inviável dar a destinação correta
Existem iniciativas, como no Paraná, que se pode citar sobre a intensificação e incentivo de descarte correto no Carnaval. Mas mesmo com as soluções de recolhimento de todo material, a melhor saída é de que as pessoas descartando em locais corretos para que se possa reciclar ao final, além de claro, ter mais consciência de como poder economizar ao consumir produtos e água de forma econômica. Não há como “jogar fora” o lixo, porque não existe “fora”. Todos os resíduos ficam acumulados em aterros e lixões e quando não for mais comportado, ele transbordará novamente de volta
Vamos juntos pelo meio ambiente e pela sustentabilidade! Tenha consciência e curta com responsabilidade.